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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Os idos Verões no Alentejo

Com os últimos dias que passei no Alentejo, vieram-me à memória os loucos Verões lá passados entre  a adolescência e o início da idade adulta. Contávamos os dias, para as férias, para a chegada dos nossos amigos que vinham de Lisboa e durante, pelo menos, 1 mês -  porque menos que um mês era muito pouco tempo - vivíamos aventuras e desventuras caricatas, eram os melhores dias e noites do ano (qual noitadas na universidade, ou restantes festas durante o ano, o nosso Verão era especial e não trocávamos aqueles momentos por nadinha de nada) e éramos nós que fazíamos a diferença, as pessoas,  mais nada importava, éramos absolutamente non sense, surreais e gostávamos:

  • Corríamos todas as festas de vilarejos e aldeias à volta, todos os fim-de-semana haviam festas com bailaricos e petiscos bem regados, íamos sempre em excursão 4, 5, 6 carros cheios de gente;
  • Quando íamos a festas pagas arranjávamos forma de entrar sem pagar, cheguei a passar por baixo da rede que delimitava o espaço - numa festa de rua - e a entrar pelas traseiras de um edifício onde decorria uma festa,  atravessar com a maior cara-de-pau deste mundo a copa onde pessoas trabalhavam, e depois ir à bilheteira pedir um bilhete de saída e ainda dizer ao senhor da bilheteira que tinha passado por lá e ele é que não se lembrava;
  • Uma vez fomos a uma festa que tinha uma garraiada com a praça construída à volta do tanque da vila, uns amigos encharcaram-nos até aos ossos, voltámos com o sol quase a nascer, uma amiga minha entrou em casa  de soutien e cuecas, com uma pochete debaixo do braço, e eu com uma camisa de um amigo que me dava pelos joelhos, as calças de ganga encharcadas e o cabelo escorrido (claro que a minha mãe estava atrás da porta e ouvi das boas quando me viu naquela figura);
  • Num dos bailes "pimba" que fomos, éramos 5 meninas e um rapaz, nós só dançávamos com o nosso homem e recusávamos todoooos os outros que nos convidavam, resumido um grupo de animais juntou-se e foi malhar o nosso menino, era ver nós as 5 mulheres da luta a tentar bater nos manfios -escusado será dizer que não resultou e até saíram saias rasgadas- enquanto o artista cantava "Eu não gosto de porrada/ com porrada me atrapalho" (muito adequado);
  • Dávamos apelidos/code names aos rapazes e raparigas e falávamos dos próprios à frente deles sem que fizessem a mais pequena ideia de que nos referíamos a eles: havia o Gunzo, porque para nós era parecido ao Gonzo da Boys Band Excesso, o Lábios que tinha uns lábios de cortar a respiração, o Mosquito que tinha cara desse inseto, as irmãs sensation e tentation porque andavam todos a babar por elas, and so on..
  • Quando começou a poder enviar-se SMS por telemóvel (sim, houve uma altura em as mensagens escritas não existiam!), o meu telemóvel foi dos primeiros a ter o serviço disponível, e como era período experimental as mensagens não se pagavam, digamos que passávamos 2/3 do dia a divertir-nos a mandar mensagens a meio mundo e as comunicações nuuuuunca mais foram as mesmas, e nós fomos pioneiros e foi no Verão;
  • Tivemos o vício da sueca e jogávamos em todo o lado, na piscina, no bar, nos bancos de jardim;
  • Tivemos paixonetas, paixões, amores sérios outros nem tanto, dramas românticos, mas relembramos esses momentos sempre com alguma nostalgia;
  • Houve uma altura que adoptámos como hino de Verão, a música "Por Quem Não Esqueci" que cantávamos a plenos pulmões pelas ruas já alta madrugada;
  • Num dos Verões o único bar da terra fechou, não havia nada, mas nós saíamos e divertíamos-nos à brava de qualquer forma, íamos jogar dardos, matraquilhos,  depois acabávamos a noite para a praça e ficávamos na conversa até às tantas
  • Um ano uma amiga tinha acabado de tirar a carta e eu tive a "excelente" ideia de lhe dizer para experimentar conduzir o carro do meu pai  - era um parque de estacionamento completamente vazio, sem um único carro e apenas com uma faixa separadora central, não ia haver perigo - pois, mas ela congelou, não virou o volante, em vez de travar, acelerou, subiu o passeio e foi justamente bater no único obstáculo que existia naquele estacionamento: um poste de eletricidade! O carro ficou partido, o radiador rebentou e eu passei um Verão inteirinho sem carro (acho que o meu pai deu instruções ao mecânico para só reparar o carro em Setembro para que eu pudesse ir fazer 1 exame);
  • Faziam-se uma peças de teatro um pouco "alternativas", e sempre com incidentes/acidentes, quem ia ver ficava a "apanhar do ar". Numa delas havia uma luta, um tipo levou acidentalmente com um tijolo na cabeça que o feriu a sério, teve que ser assistido e o público achou que fazia parte, numa outra ocasião caiu uma estrutura inteira de andaimes em cima de participantes, houve desmaios, hematomas, entrada de ambulância, pessoas que foram para o hospital e mais uma vez a assistência achou que fazia parte e que tinha sido muito bem feito porque parecia real!
  • Muitas noites íamos até à barragem ver estrelinhas e ficar a filosofar nos nossos dramas de vida e vínhamos como novas!
  • Tivemos a fase Herman Enciclopédia, e quando não estávamos a falar "Americane", estávamos a falar à Supê Tia (pronto, éramos idiotas a esse ponto e os meninos já não nos podiam ouvir)
  • Como só dispúnhamos de carro durante o dia (pais super-protetores) usávamos quem tinha panca por nós para cravar boleia, claro que chegávamos ao destino e já nos estávamos a borrifar para quem nos tinha levado, o o pobre tipo ficava pendurado;
  • Sextas após meia-noite era romaria de 10 ou 15 pessoas a uma padaria comprar pães com chouriço acabadinhos de fazer, o problema era quando não haviam pães e surripiávamos tudo o que apanhávamos;
  • Passávamos os dias entre piscinas, barragem e às vezes praia (essa era menos que ficava looooonnnngeeee) porque tínhamos que manter o bronze trazido dos Algarves e as noites, bem as noites eram sempre uma aventura.....

E éramos tãaaaaaaao felizes, mas às vezes não sabíamos!!!!

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