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quarta-feira, 30 de maio de 2012

A linguagem "politicamente correta"

Cada vez mais se recorre ao eufemismo e à linguagem politicamente correta para denominar situações e factos, assim andamos todos num mundo cor-de-rosa de sonho e somos muiiiiiito mais felizes, lembrei-me de fazer um pequeno apanhado (começo pela área laboral que se está a tornar cada vez mais "florida" linguísticamente) :
  • Diz-se "colaborador" e não "trabalhador" - pelos vistos as pessoas não trabalham, colaboram alegremente, mas para isso têm que  falar chinês, russo, mandarim, italiano, espanhol, árabe, ter 5 mestrados, 2 doutoramentos, experiência de 20 anos, mas  menos de 35 anos de idade e estar disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, por 500€/mês, eu acho que são mais laboralmente abusadas (para não dizer escravizadas);

  • Diz-se  "dispensou" e não "despediu" - Assim o "colaborador" acha que está na escola e teve uma dispensa por mau comportamento e daqui a uns dias volta sem problema, vai só ali cumprir um castigo;
  • Diz-se "insolvente e não "falido" - pela lógica da química um solvente é aquele que dissolve e às vezes até se evapora, um insolvente não dissolve coisa nenhuma, é pá um insolvente é uma coisa boa.....
  • Diz-se "entidade empregadora" e não "chefe" ou "patrão" - porque ninguém manda em ninguém, existem "colaboradores" que estão lá a cooperar para uma "entidade" global e feliz, qual organograma de pirâmide?  está tudo ao mesmo nível (é moderno e correto),  até já vi um organograma que é uma flor e os departamentos são pétalas....é poético;
  • Diz-se  "horas extra" e não "exploração" - Explorar ou escravizar é mesmo o termo aplicado, já que agora é moda fazer horas extraordinárias sem remuneração, mas como está tudo a colaborar não há problema;
  • Diz-se "de cor" e não "preto" - e eu pergunto-me de cor? mas há vermelhos, amarelos, pretos, afinal era índio, chinês, africano?????
  • Diz-se "alegado homicida" e não "assassino" - porque até ser condenado é inocente, tudo bem, mas o Breivik que na Noruega matou 77 pessoas e toda a gente sabe que matou é um alegado homicida? é um assassino e pronto;
  • Diz-se "idoso" e não "velho" - e quem vem dizer velho é crucificado, tal como quem diz preto, fica mal, todos ficamos velhos, é um facto, mas ninguém gosta de admitir;
  • Diz-se "excesso de peso" e não "gordo" - a pessoa pode até ter obesidade mórbida e não andar, rebolar,  mas gorda não é, tem excesso de peso, porque excesso de peso até dá para quem só tem 5 ou 6 quilinhos a mais;
  • Diz-se "doença prolongada" e não "cancro" - cancro assusta muito, é um nome feio, as pessoas não gostam de ouvir/ler a palavra, uma doença prolongada quer dizer que viveu eternamente com a doença, como quem nasce com uma doença congénita e morreu aos 80 anos, mas conviveu com o problema a vida toda;
  • Diz-se "paraplégico" e não "paralítico" - esta até percebo, é ainda mais polémica que o "velho"  ou "preto", mas acho que grande parte da população não sabe o significado de paraplégico;
  • Diz-se "perturbações psicológicas" e não "maluco", "louco" - deve ser porque nas perturbações psicológicas encaixa tudo, desde um pequeno problema passageiro até à doença mental mais desequilibrada e dar esta denominação pode significar que ainda é recuperável, mesmo que não tenha cura..
Nota: comecei as minhas frases por "diz-se" mas poderia ter começado por "escreve-se"

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